segunda-feira, agosto 21, 2006

II - “Erro Não Identificado”

Canal certo, veículo usual, autores consagrados. Onde estava? Meio de semana ordinário, problemas?, sim. Algo errado! Notícias pedindo botóx, mas algum schrubles emanava positivismo de psico-esoto-baboseira. Seria um vírus-hippie? Cadê a desesperança da imprensa? Chato não era, só instigava. Quadro após quadro as prisões, brigaiadas e posicionamentos pareciam ir para algum lugar. Dava mais medo que um Emo. Dia tosco.

Nunca tive pressa de chegar no “para onde vamos”. E se eu não gostar do lugar?

Existencialistas-de-merda são péssimos agentes de viagem; eu provavelmente acabaria com um bilhete de retorno da Varig (bem feito por trepar com leitores de Sartre). Mas, se estávamos indo, era melhor eu descobrir a destinação e me preparar.

33”. Não precisava de protetor solar, só de sorte. Morria com 32 e escapava da DR com minha vida. Discutir o relacionamento com o mundo pra quê? Pra mim o sentido da vida sempre foi 33. Tava bom; e eu chegava feliz no próximo “Mochileiro da Galáxia”. Peraí!

- Vocês não tão entendendo nada, né? Puxa o controle e vamos reduzindo

Trinta-e-três é o sentido da vida ou é quando entramos numa sala de conferência para discussões mais aprofundadas? Como o sentido da vida não devia ser o inferno, tava mais pro número da sala. Mas demora pra descobrir...

A primeira pessoa confiável que voltou do Tibet me garantiu ter ouvido do Lama que a resposta era 33. Eu estava com um terço da minha filosofia de vida resolvida... Até que fiquei preso numa fila com um numerólogo cabalista. Inferno. Cismou de entregar que 3 é o eterno e que aos 33 anos (ele devia ser cristão...) me depararia com uma “crise espiritual”. Puta troço chato. Mas como eu não queria virar um cabaço-balzaquiano-gatão-radical-chic-em-crise, resolvi viver só até os 32. Viva Cazuza! Viva Cássia Eller!

Adonai seja louvado! Se você for acreditar em cabala, é melhor ouvir de um Rabino do que da Madonna. Ou, pelo menos, de um judeu. Perguntei num jantar e levei uma sacaneada. Você encontra um 33 a qualquer momento, seu shmokale. Sempre que você tem problemas de falta ou excesso de tempo, você lembra que não é eterno – fácil! Era só eu deixar de ser um vagabundo workaholic.

Mas isso não resolvia meu problema com o jornal...

Se todo mundo estava se deparando com a existência ao mesmo tempo, aí tinha. Em alguma página, alguma notícia tinha que explicar aquela crise de positivismo-hippie entre os jornalistas. E lá estavam elas na página 3:

Solstício: O que fazer na mais longa noite do ano?
Morte: Comoções durante homenagem a Bussunda.
Incertezas: Brasil deverá efetuar mudanças na Copa?

Entrei em crise, sinto muito...


Altivo Oliveira Neto
22/06/06

terça-feira, agosto 15, 2006

I - Vou te falar do meu povo,

Nascemos dispersos, estranhos ao decalque esperado pelo molde. Uma obra nascida do erro, cujo traço engrandece o conjunto – sem nunca fazer parte. Cujo autor nunca reconhece. Somos arte. Somos a transgressão original

A um passo de um ctrl+z

Gritamos e protegemos. Nos justificamos. Nosso primeiro refúgio, o sorriso desarmante, denominaria o nosso tipo ~ eternamente alegres por viver; este esgar deslumbrado nos esconderia muito no futuro – somos falsos. Somos fadas, demônios, duendes, teatro, somos as asas

Em busca da liberdade de um palco

E voamos longe pra nos entender. Sem você pedir. Aprendemos inglês, fomos estudar fora, viramos comissários, turistas profissionais, diplomatas até. Nós abrimos as fronteiras deste mundo e conquistamos as Índias

Mas você não estava lá

[←] os que ficaram enlouqueceram. Fugiram para dentro [de si] o negro do universo. A minha gente drogada, reclusa ou chorando [...] alimentando o câncer [nós chacinamos os sonhos de bilhares] e além__ Terias meu coturno em sua casa, se não nos matássemos aos quinze anos. Somos adúlteros, nazistas e suicidas

Então emigramos

Fugimos para as maiores cidades do planeta e construímos nossos guetos. Brigamos, marchamos por eles. Fomos grandes. Mas vocês estavam longe, e nos perdemos em nossa solidão. Perdemos nossa moral. Viramos estetas, hedonistas, narcisistas. Optamos por esquecer a nossa dor, e redesenhamos o mundo. Coreografamos e estilizamos e fotografamos até construir o nosso conto-de-fadas

Até que a praga veio

E vocês nos jogaram na cara que fazíamos parte do seu mundo. Debaixo de toda maquiagem, dança e erudição, precisávamos crescer. E nós não tínhamos tempo. Queríamos ser adolescentes depois dos vinte anos, recuperar o não aproveitado, entende? E toda uma geração se perdeu. Somos aidéticos

E o peso deste novo sangue urrou de dor

Reconstruímos nossas casas, nossos bairros, e o gueto abriu as portas para que marchássemos. Não tivemos uma diáspora, nascemos dispersos. Na regra da ironia das denominações, correríamos o mundo tentando virar caricaturas – nossos rostos de palhaços tristes (e maldosos) evitaRiam o contato mútuo na idade – mas tenho medo de morrer só. E agora iríamos nos reunir

Que cada porta fosse marcada com uma bandeira

Que cada bairro de cada cidade gritasse: estamos aqui e não vamos morrer sós. Uma vez por ano, amor, escancaramos as portas dos nossos guetos, nos organizamos como uma comunidade e tentamos voltar pra casa. Uma vez por ano eu sou a regra, e não a exceção. Uma vez por ano eu ando em nosso bairro e meu povo pendura bandeiras nas portas das casas, e eu não preciso procurar a outra ponta do arco-íris

E eu me lembro de você, e de como era gostoso estar em casa contigo

Quem sabe estar em nossa sala e encontrar o seu sorriso este domingo. Eu tento encontrar forças nas esquinas deste bairro. Enquanto isso eu marcho. Para lembrar ou esquecer. Mas sei que aqui estão nossos restaurantes, aqui estão nossas boates, nossos bares, teatros, galerias, casas. E aqui eu vou marchar. Os peregrinos seguem para os templos, o ano-novo fica no bairro oriental, as quermesses nos bairros italianos e as paradas nos bairros gays

E marcharemos em desfile até todos estarmos em casa

E o seu povo marchar com o meu povo

Só não demore, pois tenho saudades.

Altivo Oliveira Neto